Embora rãs sejam
mais agradáveis ao paladar,
por vezes
precisamos "engolir sapos", e assim,
é bom saber como
digerir esse indesejado batráquio...
Osculos e
amplexos,
Marcial
*****
Por certas circunstancias da vida,
precisamos aplicar a desagradável arte de engolir sapos. Alguém poderá dizer
que as rãs são mais saborosas. Até concordo, mas não estou dizendo engolir
sapos no exato sentido da palavra, mesmo porque é exatamente pelo fato desse
bichinho ter um aspecto tão repulsivo, e possivelmente ter um sabor extremamente
desagradável, que se costuma dizer que vamos engolir sapos, quando por razões
diversas, somos obrigados a escutar coisas que não nos agradam, e nada podemos
responder.
Obviamente essa atitude fere a sensibilidade
de qualquer pessoa, pois não é nada agradável quando por contingências da
vida, precisamos contrariar nossa vontade que, por vezes é mandar quem está nos
falando e, possivelmente o resto do mundo para lugares pouco recomendáveis, que
não sejam "politicamente corretos", mas somos obrigados a concordar, e a ceder,
abdicando de nossa vontade, em nome da chamada boa educação, e por vezes por
questões de sobrevivencia...
Verdade seja dita, o perigo dessa
atitude, reside no fato de que por tantas vezes, e durante algum tempo, estarmos
violentando nossos próprios desejos, e cedendo tanto às necessidades dos outros,
que começamos a acumular mágoas em nosso interior, e um dia explodimos. E ao
explodirmos, poderemos magoar pessoas que não chegam a ter tanta culpa por
nossas frustrações, pois acabamos atingindo quem estiver por perto quando da
explosão, e nem sempre são os verdadeiros causadores.
Essas mágoas, muitas vezes vêm de longe, e
vão se acumulando aos poucos, e ficando represadas. Quando a barreira cede, a
inundação varre tudo, sendo algo como um tsunami emocional.
Por vezes, chegamos a desmarcar consultas
médicas já marcadas há algum tempo, para atender a alguma necessidade de
outrem. E isso vai nos aborrecendo.
Em conversa com um médico amigo, um clínico
geral muito bem conceituado, ouvi o seguinte:
“As pessoas
não devem engolir sapos, pois é uma das maiores causas de distúrbios gástricos
(mesmo que não seja no sentido real da palavra...). E mesmo de
stress.”
Entre um chopinho
e outro, argumentei que nem sempre podemos deixar de saborear os batráquios em
questão, pois nem sempre podemos dizer ao eventual interlocutor, o que realmente
pensamos, seja por questões de educação, seja por interesse, seja por algum
receio, seja por qualquer razão. Foi então que ele falou a fórmula mágica.
Vejam a simplicidade de sua explicação: ”O negócio, meu amigo, é começar a
falar sozinho... Ao invés de simplesmente ficar remoendo no pensamento as coisas
que gostaria de dizer, assim que ficar sozinho, desabafe, falando em voz alta,
como se fosse àquela pessoa, tudo o que lhe vier na cabeça. Solte os bichos. Se
for o caso esmurre o travesseiro, o banco do carro, o que tiver de macio ao
alcance da mão. O que não se deve fazer é guardar as coisas dentro de si. Essa
terapia poderá tirar o emprego de muitos psicólogos, mas se for bem feita,
resolve muitos problemas, principalmente os gástricos. Já fiz essa experiência
com diversos pacientes impacientes, e eles ficaram mais
pacientes...”
Na verdade, esse é o tipo de tratamento
que não custa nada e, como se costuma dizer, se não mata, engorda, e assim, como
em nossa vida quase sempre nos vemos nessa desagradável
contingência de incluir esse bichinho no cardápio, não custa nada aplicar a
terapia do berro. Após a ”refeição” no instante mesmo em que ficarmos sós, é
só se concentrar na pessoa que nos irritou, e, imaginando ter a soturna figura
em nossa frente, dizermos tudo aquilo que está entalado em nossa garganta, e
não pudemos dizer-lhe ao vivo e a cores. Mas falar mesmo, se for o caso, gritar
em altos brados. Nada de sussurros românticos. Gritar mesmo. Dizendo tudo que
nos vier à cabeça.
Acreditem, é uma excelente terapia para esses
casos.
Assim fazendo, descarregamos as frustrações
interiores. É um desabafo que não irá magoar ninguém. Podemos dizer tudo o que
queremos, e não teremos reação nenhuma.
Em apoio a essa terapia, é bom lembrar que no
Japão algo semelhante é muito usado, pois nas grandes firmas japonesas, existe
uma sala com um boneco representando o Diretor da firma, e os funcionários podem
fechar-se nessa sala, e fazer o que querem com o boneco, menos destruí-lo, para
não aumentar o prejuízo...
Bem, se por acaso tiverem algo a dizer em
detrimento a quem sempre lhes deseja UM LINDO DIA, podem faze-lo, teclando o que
quiserem, mas com o PC desligado...
Marcial Salaverry
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